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Artigo: ‘Zagueiro ou atacante? Goleiro. Não prestou’ - CL Web Rádio

Artigo: ‘Zagueiro ou atacante? Goleiro. Não prestou’

Por Wendell Setubal/
Foto: Reprodução/Internet/

ASSUNTO é o que não falta. Poderia falar da competição ridícula entre Dória e Bolsonaro para ver quem produz primeiro uma vacina “100% nacional”. Ridícula e desrespeitosa com os mortos e seus familiares.

PODERIA falar do crescimento do investimento externo neste início de ano. Mistério? O capital vai aonde o lucro é maior. Cada direito trabalhista retirado por Temer e Bolsonaro significa aumento da taxa de lucro para o investidor.

MAS vou falar de futebol. De goleiro. Sua solidão impressiona: são vinte correndo atrás da bola. E ele sozinho. Em compensação, ele pode pegar com as mãos, os outros não. Se não pegar, ai dele!!
NO diálogo que serve de título, o treinador pergunta se o menino joga na defesa ou no ataque. Vai fazer um teste. O rapaz responde que é goleiro. O treinador fica decepcionado.

PORQUE o rapaz é negro, e goleiro negro não tem firmeza, diziam os “especialistas”. Admitem a superioridade da etnia negra em alguns esportes, devido a particularidades biológicas. A contrapartida é a constatação dos índices maiores de inteligência da etnia branca, segundo estes “especialistas”. Não são panfletos da Ku Klux Klan, os autores são professores universitários, mostram pesquisas, apresentam suas conclusões como científicas. São na verdade ideologia racista: um dos mais conhecidos é o livro A Curva do Sino, de Charles Murray e Richard Horrnstein.
NO Brasil, a maleabilidade do jogador negro, vista como genética, sempre foi elogiada porque facilitava o drible. Goleiro não dribla, portanto o “instinto” não lhe serve. Goleiro usa as mãos, que obedecem mais ao cérebro. Se a racionalidade, vista como superior ao instinto, é coisa de branco, conclui o ideário racista, goleiro branco é mais seguro, tem mais frieza do que o negro.

HÁ 100 anos, nasceu um menino negro que desafiou essa algaravia. Chamava-se Barbosa, ganhou notoriedade no Vasco da Gama, nos anos 1940 e 1950.
NA véspera da decisão da Copa do Mundo de 1950, os jogadores foram dormir tarde, com visitas de vários políticos, dirigentes de futebol, um otimismo contagiante (bastava empatar). Faltou combinar com os uruguaios.
MARACANÃ lotado. O empate servia e o Brasil abriu a contagem. 1 X 0, gol de Friaça. No segundo tempo, um ataque pelo lado esquerdo do Brasil e o Uruguai empata. O chamado silêncio ensurdecedor domina o Maracanã.

GHIGGIA vai pelo lado esquerdo, Bigode é driblado pela segunda vez, e o chute passa entre a trave e Barbosa. O Uruguai virou o jogo e ganhou o título. Bigode, também negro, foi chamado de covarde, inventaram que um dos uruguaios deu-lhe um tapa e ele se retraiu. Morreu na miséria.
MAS Barbosa ficou como o grande vilão.

FALHOU. Estava. Nervoso. Faltou. Firmeza. Quando não faz na entrada. Blá-blá-blá. Racismo puro e simples. Ainda por cima, era do Vasco, time “suburbano”, o primeiro dos grandes clubes a admitir jogadores negros, sendo punido por Fluminense, Flamengo e Botafogo. Foi expulso da Federação e voltou anos depois.

EM 2014, os 7 X 1 da Alemanha foram um vexame muito maior do que a derrota de 1950, trazendo inúmeras reavaliações sobre aquela decisão.
ALGUM tempo depois do Maracanazo, Barbosa foi intimado pela polícia para explicar seu nome assinando um manifesto do Partido Comunista. Onde já se viu? Não houve desdobramentos, porque o presidente da República, Getulio Vargas, gostava dele.

O SUJEITO vibra com Lewis Hamilton. Acha Pelé o maior de todos os tempos. Como torce pelo Flamengo, idolatra Gerson e Bruno Henrique. Mas é racista…
*
Nota: Agradeço a Jorge Santana a menção a Barbosa. Ele também escreverá sobre o caso Barbosa, só que com mais brilhantismo, óbvio.

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