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Por Heitor Fernandes*
Foto: Reprodução
Em setembro de 2025, o governo Lula enfrentou uma das mais contundentes manifestações de insatisfação técnica dentro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Nove auditores fiscais renunciaram coletivamente a cargos de coordenação regional, em protesto contra uma decisão do ministro Luiz Marinho que reacendeu o debate sobre a independência da fiscalização e os limites da interferência política em processos técnicos.
A opção do ministro do trabalho, pelo capital…
O estopim da crise foi a decisão inédita do ministro de “avocar” o processo de inclusão da JBS Aves na Lista Suja do trabalho escravo. A empresa havia sido autuada por submeter trabalhadores a condições análogas à escravidão em granjas no Rio Grande do Sul.
Ao retirar a análise da esfera técnica e assumir pessoalmente a decisão final, Marinho provocou uma reação imediata de entidades como o Ministério Público do Trabalho e associações de auditores fiscais, que denunciaram o risco de impunidade seletiva e a violação da autonomia da fiscalização.
Essa atitude não apenas compromete a credibilidade do sistema de combate ao trabalho escravo no Brasil, como também levanta suspeitas sobre os reais interesses por trás da intervenção ministerial. Afinal, por que o ministro do Lula blinda uma empresa acusada de práticas tão graves de trabalho análogo à escravidão?
Patrões da JBS, abriram caminho para a “química” entre Trump e Lula nos EUA
Enquanto no Brasil a JBS enfrenta acusações de violação de direitos trabalhistas, nos Estados Unidos a empresa atua com força total para preservar seus interesses comerciais. Também em setembro de 2025, Joesley Batista, acionista da J&F (controladora da JBS), reuniu-se com o presidente Donald Trump na Casa Branca para discutir o tarifaço de 50% imposto à carne brasileira.
Joesley argumentou que a medida encareceria os preços para os consumidores americanos e apelou por um diálogo comercial direto. A JBS, que concentra metade de sua receita global nos EUA, tem forte presença no mercado americano, inclusive por meio da Pilgrim’s Pride — empresa que doou US$ 5 milhões à campanha de Trump em 2024.
O encontro evidencia a capacidade da JBS de atuar diretamente na diplomacia econômica, sem intermediários do governo brasileiro. E mais: comprova que a decisão de Luiz Marinho foi motivada por pressões econômicas e políticas, diante da relevância internacional da empresa no mercado global.
A saída é a organização da classe trabalhadora
O episódio escancara um conflito estrutural entre técnica e política no governo Lula. Ao ignorar pareceres técnicos e intervir diretamente em um processo sensível, o ministro do Trabalho descortina a opção clara pró patronal do governo, mas também desmoraliza as instituições que combatem o trabalho escravo.
A renúncia coletiva dos auditores fiscais é correta, quando profissionais experientes abandonam seus cargos por não se sentirem respeitados.
O caso JBS expõe mais uma faceta do governo Lula, em favor dos patrões, ao flexibilizar princípios em nome de interesses econômicos e políticos. Ao mesmo tempo em que a JBS busca preservar sua influência nos EUA, o governo brasileiro opta em não aplicar sanções duras contra violações de direitos humanos praticados contra trabalhadores.
Cabe, portanto, às organizações da classe trabalhadora, não só as denúncias dessas graves violações e exigências de revogação da interferência do ministro Luiz Marinho, mas sobretudo a organização de manifestações em apoio concreto aos trabalhadores e trabalhadoras da JBS.
A saída é a classe trabalhadora se organizar e lutar para derrotar esses planos de Lula e seus ministros. A classe trabalhadora deve assumir o comando com os conselhos populares e acabar com todas as formas de escravidão moderna.
*Heitor Fernandes é membro da Comissão Nacional de Saúde do Trabalhador da Federação Nacional de Trabalhadores dos Correios – FENTECT e da CSP-Conlutas-RJ.
Artigo publicado no perfil do autor no Facebook.