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O fascismo mora ao lado - CL Web Rádio

O fascismo mora ao lado

Texto: Wendell Setubal*
Imagem: Reprodução

Vou chamá-lo de Manuel Maria. Seu nome
não é esse. Funcionário público de baixo
escalão. Mora no interior, perto do
Roberto Jefferson. Aposentado, fabrica
móveis, aprendeu com o pai, nas horas
vagas, gostava de ajudar o pai. O emprego
era burocrático, devia fazer com um pé nas
costas.

Três filhos: um mora no Rio, bom emprego;
a menina é comerciante, o outro filho era
(é) roqueiro, fui com ele ao maravilhoso
show dos Rolling Stones no Maracanã.
Mulher dona de casa, casal de comercial de
margarina.

Houve a chacina na Candelária, com oito
mortos, meninos que dormiam nas ruas, em
1993, trinta anos atrás. Manuel veio ao Rio,
ou eu fui na casa dele, não me lembro.

Trabalhava perto, comentei o caso. A fala
dele me chocou. “Chacina na Candelária ou
Faxina na Candelária?”
Eis aí a gênese da formação de um
simpatizante do fascismo. Pequeno-
burguês, provavelmente racista, morador de
cidade do interior, ojeriza a qualquer tipo de
leitura e, de uns tempos pra cá, recebendo
informação política através das redes
sociais.

Há um filme, de Bernardo Bertolucci,
chamado O conformista. Trata-se de um
jovem que sofreu uma tentativa de estupro
por parte do motorista do pai (família rica)
e vira fascista, quando se torna adulto.
Denuncia seu professor, afirmando que ele
é comunista.Quando o fascismo cai, ele
reencontra, vivendo na rua, o tal motorista
pedófilo, agora assumidamente gay. Ele
pensou que havia assassinado o motorista,
mas ele está vivo. Encontra na rua um
amigo fascista que é cego. A multidão vem
marchando e ele aponta para o cego e diz
que o cego era fascista.

Manuel Maria é um bom sujeito, correto
nos negócios, fabrica móveis e é
bolsonarista.

A ideia que se tem de um fascista é a de um
sujeito truculento, machão, agressivo.
Manuel é o oposto. Acha os políticos
corruptos, política é uma coisa nojenta,
farinha pouca, meu pirão primeiro.

Manuel, a mulher, os três filhos viraram
bolsonaristas. A base social da extrema
direita não nasceu com Bolsonaro, nasce
com estes moradores interioranos, cristãos,
individualistas, que tomam cerveja no fim
de semana. Enfim, este fascista é “normal”.
Talvez seja seu vizinho.

*Wendell Setubal – Revisor de texto com Pós-Graduação pela PUC-MG.

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