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Vamos falar sobre o nome do filho do Seu Jorge? Ou melhor, vamos falar sobre Racismo Recreativo e Ignorância? - CL Web Rádio

Vamos falar sobre o nome do filho do Seu Jorge? Ou melhor, vamos falar sobre Racismo Recreativo e Ignorância?

Por Wellingta Macedo (Well)*
Fotos: Reproduções/

Essa semana que acaba amanhã, sábado, um dos assuntos que tomou conta das rodas de comentários e polêmicas, nas redes sociais, foi o nome do filho recém nascido do Cantor e Ator, Seu Jorge. A polêmica se deve ao fato de um cartório do estado de São Paulo ter se recusado a registrar o filho do artista com o nome SAMBA, que aqui no Brasil é um gênero musical e uma manifestação cultural Afro-Brasileira. Após justificativa e razões apresentadas pelos advogados do cantor e ator, nesta manhã de sexta-feira, o cartório anunciou ter aceitado as justificativas e formado convencimento a partir das razões alegadas, de que o filho de Seu Jorge, poderia ser registrado como Samba.

Pois bem, desde que a notícia veio a público, eu li e vi uma série de comentários sobre o assunto, na sua maioria, criticando o cantor por querer chamar seu filho de Samba. Desde gente odiando o nome, até os que fizeram piada nas redes sociais com a palavra Samba e tentando “adivinhar” como será a vida do filho de Seu Jorge, na escola (a criança mal nasceu).

Acho importante, negritar umas coisinhas:

1- Samba, pra além de ser nome do mais popular gênero musical do Brasil, é também Nome Próprio no Continente Africano. Segundo a Cientista Social, Educadora e Escritora Luciana Brauna, Samba, significa “segundo filho” ou “aquele que cuida do rebanho”. Existe um filme francês, protagonizado pelo maravilhoso Omar Sy, chamado “Samba”. O nome do personagem de Omar, é Samba Cissé e ele é um imigrante do Senegal, na história;

2- A escolha de nomes dos filhos é algo muito particular, pessoal, delicado, algo que é definido na sua maioria das vezes, pelos pais e ou responsáveis e esses nomes, muita das vezes, são escolhidos motivados por questões religiosas, costumes, identidade cultural ou outros motivos, políticos, por exemplo. Foram motivos políticos que levaram a mim e ao pai dos meus moleques, a registrá-los como Leon e Ernesto. Foram motivos familiares que levaram meu Pai, a me registrar como Wellingta, nome que eu amo por sinal, apesar das piadinhas e bullying que sempre enfrentei a vida inteira, inclusive de pessoas próximas;

3- Existe uma lei nos cartórios de 1973 que permite ao registrador não autorizar o registro de nomes que o mesmo considere “vexatório”. Esse entendimento parte de um critério “pessoal” e uma consulta, pelo que apurei em outros cartórios interligados em todo país, caso seja necessário, para verificar se o nome solicitado para registro é comum ou não. Foi o que ocorreu no caso do filho do Seu Jorge. A funcionária teria achado “ridículo” o nome Samba e nada comum. Por isso, o veto. Existem inúmeros casos e situações envolvendo veto aos nomes de crianças propostos pelos Pais. Tem gente que leva à Justiça. Claro que há casos e casos, por isso é preciso analisar muito bem as justificativas apresentadas e outros fatores, além do bom senso de todos os envolvidos.

4-Brincadeiras, Piadas e Preconceitos com os nomes das pessoas são fruto de uma sociedade ignorante e racista. Apelidos, também, sobretudo no Brasil. As brincadeiras envolvendo o nome do filho de Seu Jorge, é fruto de Racismo Recreativo, um dos mais naturalizados na nossa sociedade. Indígenas inclusive, sofrem o mesmo tipo de Racismo. Outros povos também. Fruto de uma ignorância por não conhecer a nossa história, nossa identidade, nossas raízes. Lembram do Kunta Kitê? É por essas e outras que a aplicação das leis 10.639 e 11.645, são tão importantes, na escola, na educação inclusive de Professores.

Mas importante também é evoluir como ser humano, avançar e descolonizar nossas mentes. Se João e José, são aceitos como nome para crianças, é fruto de uma educação, inclusive religiosa que tornou esses e outros nomes, comuns. Está mais do que na hora de também avançarmos esse entendimento para outros nomes, outras culturas, para além da ocidental, cristã, judaica, europeia.

Num país que acha lindo ter uma geração batizada de “Enzo” e “Valentina”, (nada contra os nomes) quero também ver achar lindo uma geração de “Sambas”, crescendo por aí, sem piadinhas que os faça sentirem-se com vergonha, lindos, leves, livres sem se sentirem ridicularizados por conta do Racismo e da Ignorância das Pessoas.

Que o Samba cresça com muita saúde, num mundo melhor!

*Assessoria de imprensa na empresa Assessoria de Comunicação, atriz e apresentadora do programa Cinema Livre [WR Censura Livre].

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